terça-feira, 18 de setembro de 2012

Criação de Búfalo Ameaçada na Verde Para Sempre

Claudio Wilson Barbosa

Durante mais de meio século, famílias ribeirinhas de Porto de Moz iniciaram e aprimoraram sistemas de manejo de criação de bubalinos nos campos naturais de várzeas entre os Rios Amazonas e Xingu. A capacidade de adaptação dos animais, aliada a inteligência e criatividade dos ribeirinhos na construção de marombas para o período das cheias, cercas para o manejo, transporte dos animais de uma área para outra em pequenas embarcações ou a nado fizeram com que a maioria das famílias tivesse sua renda ampliada com a produção do delicioso queijo de búfalo e a venda de animais para abate.

No entanto, a partir de 1989, com o nível das cheias cada vez maior, os criadores passaram a sofrer perdas acentuadas de animais e da produção de queijo.  Apesar da alta capacidade de adaptação dos animais a ambientes alagados, resistência para procurar alimento, a nado, em áreas distantes, as últimas enchentes, devido à rapidez da subida da água, provocou a morte da pastagem natural, por não ter havido tempo para a vegetação acompanhar a subida das águas como habitualmente. Ficando submerso por vários dias, o capim acaba apodrecendo e morrendo, fazendo com que os campos pareçam rios.

Esse fator tem obrigado cada vez mais os criadores com acesso a áreas de terra firme, a estabelecerem pequenas áreas de pastagem cultivadas para assegurar alimento para os animais menores durante os picos das cheias. Outros que não têm acesso à terra firme asseguram o alimento dos animais menores com corte de capim; mesmo que essa prática apresente suas limitações, parte dos animais consegue sobreviver. 

Além do fator enchente que, por si só, ameaça fortemente a vida de centenas de pequenos criadores em Porto de Moz, pesa o fato de, a partir de 20004, com a criação da Reserva Extrativista Verde para Sempre (Resex), ter sido suspenso o acesso às linhas de financiamento da agricultura familiar. Não se sabe concretamente quem e porque foi suspenso o financiamento para as atividades produtivas na Resex como um todo. Talvez um “gênio maligno”, como diria Descartes, tenha fechado as portas dos bancos para os ribeirinhos e também as possibilidades e condições de enfrentamento aos fenômenos da natureza e às necessidades de um processo contínuo de aprimoramento das práticas de manejo adotadas.

Não obstante, agrava mais ainda a situação, o fato dos órgãos de assistência técnica do estado e do município, assim como os de fomento continuarem apáticos às possibilidades de perda de parte significativa dos rebanhos dos criadores familiares, bem como, à redução drástica da produção de queijo que gera renda para centenas de famílias pelo menos seis meses por ano.

Para os criadores, as saídas são simples, muito claras e já estão estruturadas nas políticas de apoio a produção familiar dos governos federal e estadual:  linhas de financiamento público que permitem a reestruturação do sistema, com reforma das morambas; reforma,  ampliação e manejo das pastagens cultivadas; assistência técnica para implementação para implementação dessas ações e para a produção de queijo que a vigilância sanitária ameaça, cobra qualidade, mas não apresenta as condições para a regularização dessa atividade no estado Pará. Isso poderia ser feito com a regulamentação da lei de produtos artesanais comestíveis.

Mas, se tudo parece tão fácil de se resolver, porque essa situação está cada vez mais ameaçando a criação de bubalinos nos campos naturais de Porto de Moz? Em se concretizando a redução drástica da criação de animais como já vem ocorrendo, as conseqüências serão barquinhos descendo os rios em direção à cidade para concluir o loteamento do Baixão do Maturu, área de ocupação desordenada da cidade de Porto de Moz. Já a lotérica, nos térreos do Xingu Palace, vai ter seus clientes aumentados na distribuição do Bolsa Família.

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